Representantes do movimento negro brasileiro de vários estados compareceram ontem, 22, à Marcha Zumbi+10 Contra o Racismo, pela Igualdade e a Vida, da Esplanada dos Ministérios até o Congresso Nacional, onde entregaram um dossiê com as reivindicações do movimento negro aos presidentes da Câmara, Aldo Rebelo, e do Senado, Renan Calheiros. A passeata marca os 95 anos da Revolta da Chibata, comandada pelo marinheiro negro gaúcho João Cândido, no Rio de Janeiro. A Revolta da Chibata, também conhecida como a Revolta dos Marinheiros, ocorreu em uma das unidades da Marinha de Guerra brasileira com base no Rio de Janeiro, em 1910. Os marujos rebelados, liderados por João Cândido, reivindicavam de Hermes da Fonseca, recém-empossado na Presidência da República, a aprovação do projeto de anistia geral em discussão no Congresso, o cumprimento da lei que aumentava os vencimentos dos militares, a redução da jornada de trabalho e a abolição dos castigos corporais e cruéis como as chibatadas, a palmatória, a prisão a ferros e a solitária. É importante lembrar que a maioria dos marinheiros era negra e que ainda estava muito próximo o fim da escravidão, o que fazia com o que o tratamento recebido por eles fosse muito parecido com o dos escravos.
De acordo com a coordenadora nacional do Movimento Negro e da Comissão Nacional contra o Racismo, Maria Izabel da Silva, além de reivindicar do Estado brasileiro a implementação de políticas de combate ao racismo e de promoção da igualdade racial, a regularização de territórios quilombolas e cotas para negros nas universidades brasileiras, o movimento negro também deseja acompanhar de perto as ações empreendidas após a realização da Declaração e do Programa de Ação da 3ª Conferência Mundial contra o Racismo (ocorrida em Durban, África do Sul, em 2001).
“Nessa conferência, o Estado brasileiro assumiu o compromisso de aplicar políticas de ações afirmativas para garantir o fim da discriminação e do racismo no Brasil e essas políticas são implantadas através da titulação das terras de quilombos, das cotas para negros nas universidades”, disse ela. Maria Izabel lembrou que, com a criação de organismos como a Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, de certa forma o país iniciou o processo de cumprimento dos seus compromissos.
Ela ressaltou que o movimento negro tem sérias críticas ao Estatuto da Igualdade Racial. “Não dá conta das nossas reivindicações e, em especial, no que diz respeito ao financiamento das ações de reparações e de combate ao racismo no país”, afirmou. “Os negros querem sim o Estatuto da Igualdade Racial, mas queremos que ele seja discutido com o movimento negro e que a gente garanta os recursos financeiros para cumprir as ações.”
Zelândia Cândido, de 81 anos, filha do marinheiro João Cândido, também esteve na marcha. Para ela, essa participação tem o significado de resgatar a memória do pai e de seus companheiros. “O que mais me dói é ver o meu pai ser visto por algumas camadas de brasileiros como um marginal e um louco”, disse.
A caminhada ocorre menos de uma semana após a Marcha Zumbi+10 contra o Racismo, pela Cidadania e pela Vida, realizada no dia 16 na Esplanada dos Ministérios, quando cerca de 6 mil pessoas cobraram medidas voltadas à promoção da igualdade racial. Na ocasião, ao comentar a divisão no movimento negro em duas marchas, a ministra Matilde Ribeiro, da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, disse que se tratam de duas tendências que têm o mesmo objetivo.
Com informações da Fenajufe e da Agência Brasil