Cerca de 30 mil manifestantes, segundo os coordenadores do ato, e mais de 15 mil, segundo informações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), estiveram nesta terça-feira, 16/08, na manifestação organizada pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) em apoio ao Governo Luiz Inácio Lula da Silva, contra a corrupção e por mudanças na política econômica.
Ao que parece, para os organizadores do ato e também dos manifestantes, mais importante que os números é a convicção dos que participaram do ato em defesa do Governo. Para eles, atuar para que haja mudanças efetivas nas linhas de condução da gestão governamental, sobretudo na política econômica, é a questão central. O ato foi massivo. Havia pessoas de vários estados, em especial do Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e de São Paulo. Outros atos acontecerão Brasil afora.
Há algum tempo, a capital da República não presenciava uma manifestação popular tão organizada e pacífica (não foi registrada uma única ocorrência) e com a presença maciça de estudantes, trabalhadores, crianças, jovens e idosos em torno de uma posição comum: apoio à continuidade do Governo Lula, mudanças na política econômica, apuração de todas as denúncias de corrupção e a punição dos culpados.
Os representantes dos movimentos sociais foram unânimes no entendimento de que mudanças na política econômica, com a diminuição dos juros e da meta de superávit primário, são medidas urgentes e necessárias para que haja, efetivamente, distribuição de renda, geração de emprego e a retomada do crescimento econômico do país.
Sem pizza
Para que as apurações não terminem em pizza, a Organização Não Governamental Brasil Legal levou para as ruas o protesto estampado nos dizeres: “é inaceitável que interesses de maus políticos e corruptos estejam acima de direitos dos trabalhadores, do bem estar, da saúde e educação, da sobrevivência e dignidade de milhares de brasileiros.”
Palhaços de perna de pau, malabaris, estudantes com cara pintada, em protesto, não para a deposição do Governo, mas contra a corrupção. Crianças, idosos, sindicalistas e representantes de movimentos sociais enfeitaram e fecharam a Esplanada dos Ministérios.
Em meio a tanta gente, uma pessoa se destacou. Era Erivaldo Pereira Lima, 70 anos, aposentado e morador de Cuiabá (MT). “Não conhecia Brasília, viajei 12 horas de ônibus e estou aqui – andando de muleta porque quebrei o fêmur recentemente – para apoiar o Lula”, frisou Pereira Lima. Com a carteira de passe livre no bolso e cartão de beneficiário de programa do Governo Federal, Lima questionou o posicionamento de quem quer apear Lula do Palácio do Planalto: “todos os velhos têm cartão de banco e podem tirar dinheiro”, elogiou e destacou o aposentado.
Ao longo da manifestação, os participantes incentivados pelos organizadores entoaram palavras de ordem contra a corrupção e a tentativa de a oposição ao Governo incriminar Lula por envolvimento nas denúncias que estão sendo apuradas: “fora mensalão, o Lula é povão”, foi o som que ecoou na Esplanada dos Ministérios.
Faixas de apoio
Como é de praxe em manifestações populares, e nessa não foi diferente, pessoas desfilaram pela Esplanada dos Ministérios com muitas faixas e cartazes. Até mesmo a recente visita do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, em apoio a Lula, foi relembrada e destacada no movimento: “Companheiro Hugo Chávez, o povo brasileiro agradece a sua presença e solidariedade.”
A conversão da dívida externa em recursos para a educação era outra faixa presente no ato. “A verdadeira dívida é com a educação”, defendeu a CNTE (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação). Os desempregados também marcaram presença no evento. Cartazes com apoio ao Governo Lula eram vistos aos montes. “Desempregados, aposentados, estudantes e trabalhadores contra o golpe que querem dar no Governo Lula”.
A política do Governo para a área rural e os constantes recordes nas exportações também foram lembrados: “Lula… do agricultor, 12 bilhões com crédito fácil para a agricultura familiar” e “Lula das exportações, 95 bilhões no ano passado e esse ano 120 bilhões”.
Irreverência dos estudantes
Destaque ainda para a enorme faixa da União Nacional dos Estudantes (UNE) e da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes). “Fala sério! FHC, ACM e Jefferson falando em corrupção? Impeachment eu não aceito!” A União Nacional por Moradia Popular exortou nas ruas de Brasília a necessidade de “moradia digna com autogestão, saúde e educação, ocupar, resistir e construir”.
A reeleição de Lula, no que depender dos movimentos sociais, é uma possibilidade que deverá ser perseguida e construída por essas entidades. As palavras de ordem desses movimentos exprimem isto: “para o bem do povo, Lula de novo” e reforçada com o jingle da campanha de Lula em 2002, “Lula, lá!”.
Parada no Ministério da Fazenda
Por volta das 11h, a manifestação chegou à primeira parada, em frente ao Ministério da Fazenda. No prédio, cercado de policiais, os manifestantes gritaram palavras de ordem contra a política econômica adotada pelo Governo. Discretamente, se via uma chuva de papel picado caindo do 5º andar do edifício. Era a sinalização de apoio dos funcionários do Ministério à manifestação.
Naquele instante, segundo a PMDF, mais de 15 mil manifestantes já se encontravam ao redor do prédio. A caminhada seguiu de forma pacifica até o gramado do Congresso Nacional, onde cerca de 200 estudantes tomaram conta do espelho d`água. O calor e o clima seco de Brasília foram amenizados por quem se aventurou a entrar na água, muitos de roupa e com bandeiras em punho.
PT, PCdoB, UNE, Ubes, MST e CUT
Em nome do PT discursou Walter Pomar, um dos candidatos à presidência da legenda no PED (Processo de Eleição Democrática), que destacou o apoio da direção nacional do partido ao ato e “à punição, tanto dos corruptos, quanto dos corruptores”.
Representando o PCdoB, discursou o presidente do partido, Renato Rabelo, que destacou o momento político vivido no país. “Estamos vivendo uma luta política acirrada e toda luta política tem lado. Nós estamos do lado de quem elegeu Lula”, destacou. O presidente do PCdoB frisou também que “o partido, em alto e bom som, defende o movimento do “Fica Lula”.
Na fala inicial do presidente da Ubes (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) relembrou duas grandes figuras do país – Francisco Milani (ator) e Miguel Arraes (deputado e ex-governador) – que morreram no último final de semana. Gavião apontou ainda a participação efetiva dos estudantes nas lutas pela liberdade de expressão, deposição de um presidente da República e por melhoria na educação brasileira.
João Paulo, do MST, afirmou ter participado do evento para pedir mudanças na política econômica do Governo, em especial para a área rural. As ocupações de terra improdutivas serão retomadas caso o Governo não efetive as mudanças desejadas pelo movimento.
João Felício, da CUT, finalizou o ato. O presidente da Central Única dos Trabalhadores refutou o boato de que a manifestação foi financiada pelo Governo. “Não precisamos da máquina pública para colocar o povo nas ruas”, afirmou. Felício disse também que “ninguém vai derrubar o Lula pois, para tanto, tem que passar por cima dos trabalhadores, dos estudantes, dos idosos e das crianças”. Depois da manifestação desta terça-feira em apoio ao Governo; na quarta será a vez daqueles que se opõem ao Governo irem às ruas. PSOL, PSTU, PCB e PDT. Realizarão ato na Esplanada dos Ministérios contra a corrupção.
Fonte: Diap (Alysson Alves)