Foi marcado por clima de comoção popular o enterro do deputado federal Miguel Arraes, presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB). Uma multidão estimada em 15 mil pessoas pela Polícia Militar de Pernambuco participou do adeus ao líder político e presenciou a disparada de mais de 200 tiros de festim e o toque de silêncio. No velório do dirigente socialista e mito político, que governou Pernambuco por três vezes, a multidão diante do palácio aplaudiu a chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e vaiou uma comitiva de tucanos paulistas.
Ao som de “Arraes guerreiro do povo brasileiro”, entoado pela multidão, o corpo do político foi levado do Palácio do Campo das Princesas, onde foi realizado o velório, para Santo Amaro, no Recife, com todas as honras militares. No cortejo a pé, o povo caminhou até o cemitério, muitos com chapéu de palha, cartazes retratos do ex-governador.
O povo foi o grande personagem
O povo do Recife e do interior de Pernambuco foi o grande personagem do velório – realizado no mesmo palácio de onde Arraes saíu preso em 1º de abril de 1964, por não aceitar renunciar ao governo de Pernambuco, como queriam os autores do golpe militar. As pessoas que iam se despedir do ex-governador formavam uma fila na calçada do palácio para ver o caixão. Entravam, passavam pelo caixão, cumprimentavam a viúva, Madalena Arraes, o neto, Eduardo Campos, e saíam rapidamente. Alguns caíam no choro ao ver o corpo. Entre os visitantes, estava uma comitiva com cerca de 200 integrantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), liderados pelo coordenador estadual do movimento, Jaime Amorim.
Mas o velório do ex-governador também se transformou em ponto de encontro das maiores lideranças políticas do Brasil. Prestaram condolências à família Arraes o presidente Lula, o deputado José Dirceu (PT-SP); o presidente do PCdoB, Renato Rabelo; o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB); o deputado federal José Dirceu (PT); o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB); e a senadora Heloísa Helena (P-SOL), entre outros.
Palmas para Lula, vaia para tucanos
O presidente chegou ao velório por volta das 9h45. Lula foi saudado positivamente pelos populares que se aglomeravam em frente ao palácio. Foi recebido com palmas e gritos de guerra do tipo “Um, dois, três, Lula outra vez” e “Lula é povo, vamos votar de novo”.
Lula veio acompanhado dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil), Ciro Gomes (Integração Nacional), Jacques Wagner (Relações Institucionais), Agnelo Queiroz (Esportes) e Sérgio Rezende (Ciência e Tecnologia), o prefeito do Recife, João Paulo (PT), o controlador geral da União, Waldir Pires, e o ex-ministro e deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB).
Enquanto o presidente conversava com os familiares, no lado de fora chegava a comitiva com a cúpula do PSDB, com os adversários políticos do presidente José Serra, Geraldo Alckmin e o senador Sérgio Guerra. Os tucanos foram vaiados pelos mesmos militantes que ovacionaram Lula na chegada e entraram rapidamente para prestar condolências à família Arraes. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse que as vaias eram descabidas, e mudou de assunto, falando do legado de Arraes.
O senador Cristovam Buarque (DF), que disse estar pensando em deixar o PT, e a senadora Heloísa Helena (AL), do ultra-oposicionista P-SOL, também foram hostilizados pelos populares. Em um princípio de bate-boca, foram chamados de traidores.
Também passaram pelo velório o cantor Caetano Veloso; os deputados federais Raul Jungmann (PPS), Roberto Freire (PPS) e Paulo Rubem Santiago (PT); o primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves; o ex-ministro da Saúde Humberto Costa (PT); o presidente da Infraero, Carlos Wilson Campos (PT); e a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT), entre outros políticos e autoridades.