O presidente da Unaslaf (Associação Nacional dos Servidores Administrativos da Secretaria da Receita Previdenciária), Paulo Roberto Beal de Leão, transformou uma manifestação pacífica dos servidores da Saúde e da Previdência em greve, em frente a Agência do INSS do Continente, na manhã de ontem (27), numa demonstração de violência da polícia militar contra lideranças do Comando Estadual de Greve.
Tudo começou com insinuações e provocações do presidente da Unaslaf aos servidores que estavam na manifestação. Houve um momento de tensão, que foi utilizado por Paulo Leão para chamar a Polícia Militar. Quatro viaturas e um camburão, com cerca de 20 policiais, atenderam ao chamado e levaram preso, de forma brutal e truculenta, o coordenador do Sindprevs/SC, Valmir Braz de Souza, e os diretores Dilza Celestino, Sebastião Lami Filho e Índio Aymoré Araújo.
Ficou explícito que Paulo Leão se utilizou de uma manifestação ordeira pela reabertura das negociações, para que a greve que já dura 56 dias pudesse chegar ao fim, para jogar a polícia em cima do movimento grevista. A entidade que ele preside é contra a greve dos servidores da Seguridade Social. Neste momento, Paulo Leão está totalmente ocupado em gerar nos servidores cedidos à Secretaria da Receita Previdenciária, agora fundida com a Receita Federal, a ilusão de que serão mais valorizados e beneficiados que os demais.
A Unaslaf é mais uma daquelas entidades que se sustentam em cima da divisão e do enfraquecimento da categoria. Essa associação tenta fazer com que um grupo de servidores pense que pode conseguir mais porque é menor. Enquanto o que acontece é que o conjunto, unido, tem muito mais poder de pressão.
Todos prestaram depoimentos na Central da Polícia de Florianópolis. Contra os diretores foi aberto o Termo Circunstanciado nº 45 no Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, onde já está marcada a primeira audiência. Representantes da CUT, de parlamentares e de diversas entidades sindicais estavam presentes na Central da Polícia, quando Valmir foi liberado pelo delegado, às 12 horas.
No País, grevistas prometem radicalizar
Os servidores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) iniciaram ontem um processo de radicalização da greve e prometem mais ações a partir de hoje para forçar um acordo com o governo. A categoria reduziu o ritmo de atendimento ao público e, em alguns dos postos de maior movimento do Distrito Federal, a prestação dos serviços mínimos ficou prejudicada. À tarde, um grupo de cerca de 20 pessoas invadiu o Ministério da Previdência e acampou durante sete horas na porta do gabinete do ministro Nelson Machado.
As conversas entre os grevistas e o Executivo estacionaram desde a última sexta-feira. Os trabalhadores rejeitam a proposta do Ministério do Planejamento, que ofereceu um aumento de até 17% para os servidores da ativa por meio de uma gratificação de desempenho. A negativa motivou a Secretaria de Recursos Humanos a retirar a proposta da mesa e a cortar o ponto dos faltosos. Na terça-feira, dia de pagamento, os contracheques já virão com descontos. O Ministério Público Federal anunciou que, caso a greve não termine até o fim desta semana, acionará a União e o INSS na Justiça e determinará a abertura das agências.
A reunião no Ministério da Previdência não trouxe avanços. O ministro Nelson Machado apresentou aos servidores uma série de tabelas com aumentos salariais concedidos desde 2003. Machado cobrou dos grevistas uma alternativa à proposta de aumento via gratificação. “Eles pediram que o governo reabrisse as negociações e eu disse que a categoria precisa apresentar uma proposta nova, algo intermediário ao que foi discutido até agora”, disse o ministro. Por causa do protesto, todos os acessos ao ministério foram fechados por mais de cinco horas. Entre 30 e 50 pessoas bloquearam as entradas e a segurança do edifício controlou o fluxo de entrada e saída de funcionários e visitantes somente pela garagem.
Filas nas agências
Reflexos da mudança de comportamento dos servidores em relação à semana passada foram sentidos na pele por quem precisou ir a uma agência do INSS ontem. Ao contrário do que estava ocorrendo durante esses 55 dias de greve, os postos de atendimento em Taguatinga, Ceilândia e Sobradinho funcionaram de forma caótica. Em Planaltina e no posto do INSS no Setor Bancário Norte, grandes filas se formaram antes mesmo das 7h. “Estou tentando encaminhar meu pedido de auxílio-doença desde o dia 27 de junho”, afirmou a copeira Ana Maria da Silva, que passou a madrugada na fila da agência do Setor Bancário Norte (SBN).
Havia o compromisso por parte do sindicato da categoria e da gerência-Executiva do INSS em Brasília de que 30% dos serviços essenciais seriam mantidos. O endurecimento nas negociações deverá fazer com que este percentual caia e a população seja prejudicada ainda mais. “Dei entrada na remarcação da minha perícia médica em Taguatinga e me mandaram vir para cá (SBN). Não acho que o atendimento mínimo está mantido. Quando cheguei, disseram que só iriam atender gente do Plano Piloto”, disse o motorista Alberto Caetano, morador do Recanto das Emas. Para ser atendido, ele teve que dormir na fila.
Menos benefícios
A greve do INSS teve forte impacto na concessão de benefícios previdenciários. Em junho foram concedidos 264.757 benefícios, 29,9% menos do que os 377.796 registrados no mês anterior. Os mais afetados foram salário-maternidade (-39,1% entre maio e junho), auxílio-doença (-35,1%) e aposentadoria por invalidez (-31,9%). Os dois últimos são benefícios que dependem de perícias médicas para começarem a ser pagos pelo INSS – em função da greve dos servidores, a perícia não está sendo feita em quase um terço das agências.
Fonte: Sindprevs/SC e Fenasps