Com o lema “Margaridas em Marcha pela Reconstrução do Brasil e Pelo Bem Viver”, mulheres do Brasil inteiro se organizam para ocupar as ruas da capital do País nos dias 15 e 16 de agosto. São esperadas mais de 100 mil pessoas na marcha.
A marcha é também um ato político que busca dar mais visibilidade, reconhecimento político e social, cidadania e autonomia econômica para as mulheres. Além da luta por igualdade e liberdade, visa, ainda, denunciar a exploração, a violência e o machismo nas sociedades do mundo inteiro. A Marcha das Margaridas é um caminho coletivo de construção de um projeto de sociedade que propõe um Brasil sem violência, onde a democracia e a soberania popular sejam respeitadas, a partir de relações justas e igualitárias.
História
O nome da marcha é inspirado na mulher que se tornou símbolo da luta pela igualdade de direitos para as mulheres do campo, Margarida Maria Alves (1933-1983). Na década de 1980 ela se destacou como liderança no Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande, na Paraíba.
Combativa, a camponesa exigia direitos trabalhistas e denunciava as longas jornadas, a baixa remuneração e o trabalho infantil. Também foi responsável pela implementação de um programa de alfabetização para adultos no sindicato.
Margarida nasceu em 5 de agosto de 1933, em Alagoa Grande (PB). Era a filha mais nova de nove irmãos. A família vivia na zona rural até ser expulsa das terras por latifundiários. A questão agrária fazia parte da vida de Margarida e, em 1973, ela se tornou Presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande.
Entre as lutas travadas estavam a busca pela contratação com carteira assinada, o pagamento do 13º salário, o direito das trabalhadoras e dos trabalhadores de cultivar suas terras, a educação para seus filhos e filhas e o fim do trabalho infantil no corte de cana.
Foi, ainda, responsável por mover mais de 100 ações trabalhistas na Justiça do Trabalho local que estavam relacionadas, principalmente, com grandes proprietários de terras e usineiros. Por conta da sua atuação, teve a morte encomendada por fazendeiros.
Ao longo de sua trajetória na luta por direitos de trabalhadoras e trabalhadores, a ativista foi alvo de diversas ameaças de latifundiários e feitores. Margarida foi assassinada na porta de casa, em 12 de agosto de 1983, com um tiro no rosto, na presença do marido e da filha. Ela já vinha recebendo ameaças desde antes e, em discurso no Dia do Trabalhador daquele ano, em 1º de maio, ela declarou: “Da luta não fujo. É melhor morrer na luta do que morrer de fome.”
As investigações apontaram que os autores do crime eram ligados ao Grupo Várzea, que reunia proprietários rurais, políticos e servidores públicos. Segundo o Ministério Público, o assassinato da sindicalista envolveu fazendeiros, usineiros, pistoleiros e um policial militar, mas ninguém foi condenado.
Em homenagem a Margarida, as mulheres trabalhadoras rurais criaram, em 2000, a Marcha das Margaridas, que se tornou a maior ação conjunta de mulheres trabalhadoras da América Latina.
Da Fenajufe