Começou ontem (6) em Gleneagles, a 70 km de Edimburgo, capital da Escócia a cúpula anual do G8 (grupo dos sete países mais industrializados e a Rússia). As principais propostas que os líderes das nações mais ricas do mundo devem debater são a elevação da ajuda aos países mais pobres do mundo, notadamente à África, e medidas para diminuir as mudanças climáticas causadas pela poluição.
O grupo, composto por Alemanha, Canadá, França, Estados Unidos, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia (que faz parte do grupo devido a sua importância geopolítica), além de alguns países convidados, entre eles Brasil e China, deve debater o aumento da ajuda doada para a África para 0,56% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2010, e 0,7% em 2015. O Estados Unidos, que deram 0,16% em 2004, relutam em aceitar a proposta. O Canadá também revelou ser contra o aumento da ajuda nesses termos.
A proposta é encabeçada pelo primeiro-ministro britânico, Tony Blair, mas as expectativas de resultado positivo são questionáveis. O próprio ministro britânico das Finanças, Gordon Brown, admitiu terça-feira que o encontro da cúpula corre o risco de desapontar a campanha contra a pobreza na África.
Sobre o clima, o principal item da discussão é a redução da emissão de gases poluentes na atmosfera, e o aquecimento global. O Protocolo de Quioto, um dos temas que serão discutidos no encontro, estabelece metas para a redução da emissão de gases poluentes ligados ao aquecimento global, mas apenas 30 países industrializados estão sujeitos a essas metas.
Nesta quinta-feira, segundo dia do G8, o governo brasileiro deve pedir ao grupo que remova todas as barreiras ao comércio internacional, inclusive os subsídios à agricultura. Tal pedido deve ser feito em parceria com Índia, China, México e África do Sul.
Nova derrota de Chirac
Politicamente debilitado em casa e na Europa e atingido pela derrota de Paris para Londres na disputa pelos Jogos Olímpicos de 2012, o presidente Jacques Chirac chega à cúpula do G8 para se unir a Tony Blair contra os Estados Unidos na questão sobre a mudança climática e a ajuda ao desenvolvimento e à África, em particular.
Chirac desejou “boa sorte e grande sucesso” às autoridades e ao povo britânicos na organização dos Jogos Olímpicos de 2012. Além disso, elogiou a candidatura de Paris por seu trabalho, “seu profissionalismo e seu espírito de jogo limpo”.
Chirac estava no avião que o levava de Cingapura, onde tinha defendido a candidatura de Paris, a Gleneagles (Escócia) quando se anunciou que os membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) tinham escolhido Londres para sediar a próxima Olimpíada.
Blair, que tinha deixado Cingapura horas antes, não considera a possibilidade de esta vitória atrapalhar o trabalho com Chirac na cúpula dos sete países mais industrializados e a Rússia.
Ricos ajudam menos os pobres
As médias de renda e de gastos militares das nações mais ricas do mundo aumentaram consideravelmente ao longo dos últimos 15 anos, mas a ajuda a países considerados pobres diminuiu bastante, concluiu o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas. As cifras foram publicadas na página do programa da ONU na internet poucas horas antes do início da reunião da cúpula do G8.
A agência da ONU advertiu que os países mais ricos do mundo, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha, Itália e Japão, ficarão longe de atingir a meta proposta de oferecer 0,7% da renda nacional em ajuda até 2015, se não mudarem o curso. A Rússia, apesar de compor o G8, não foi incluída no estudo por não ser uma nação doadora.
De acordo com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, a renda per capita anual dos sete países mais ricos do mundo aumentou em US$ 7.835 entre 1990 e 2004. Os gastos militares aumentaram US$ 168 por pessoa, chegando a quase mil dólares per capita. Em compensação, os gastos per capita com ajuda a nações consideradas pobres caiu de US$ 81 para US$ 74 anuais.
Crescem protestos
Ativistas de movimentos antiglobalização, ecologistas, pessoas opostas à agressão ao Iraque e solidárias com o Terceiro Mundo entraram em choque com a polícia, algumas horas antes da reunião em Gleneagles, Escócia..
Os conflitos ocorreram em Stirling, a 25 quilômetros do hotel onde estarão alojados, desde esta noite, os líderes do seleto grupo de nações, cuja segurança custa ao tesouro britânico 145 milhões de euros (US$ 172 milhões).
Sessenta e dois manifestantes foram detidos, enquanto as forças repressivas informaram oito feridos leves entre os policiais. O evento precisou da maior mobilização policial na história britânica.
Uma cerca de aço de vários metros de altura e de oito quilômetros de extensão isola o hotel do seu entorno, enquanto um avião espião supervisiona com meios eletrônicos o lugar, com a ajuda de dois helicópteros da polícia.
Várias torres de vigilância controlam o acesso ao lugar e 10 mil policiais estão engajados na segurança da área, tarefa na que contam com o apoio do serviço de espionagem interna (MI5) e dos organismos de segurança estadunidenses. As medidas de proteção estenderam-se a Edimburgo, a capital escocesa, a 60 quilômetros do lugar onde estão reunidos os líderes do G8.
À Cúpula foram convidados o Grupo dos Cinco (formado pela China, Brasil, Índia, México e a África do Sul); o diretor-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Rodrigo Rato; e o presidente do Banco Mundial, Paul Wolfowitz.
Os que se opõem ao encontro têm como objetivo impedir o acesso pela via terrestre a Gleneagles. Na noite de segunda-feira deflagraram protestos em Edimburgo e a polícia prendeu uma centena de manifestantes.
Estima-se em mais de 50 mil as pessoas que participarão do concerto final do evento musical Live 8, em Edimburgo. Este espetáculo de rock, que contará com as apresentações de Bono, U2 e The Corrs, é o ápice dos espetáculos anteriores, realizados no sábado passado em Londres, Tóquio, Paris, Berlim, Filadélfia, Roma e Moscou, patrocinados pelo músico irlandês Bob Geldof, um dos ativistas da campanha “Fazer com que a pobreza seja história”.
Fonte: Diário Vermelho