O primeiro encontro LGBTQIAP+ da história da Fenajufe foi realizado no sábado e domingo (8 e 9). Em formato híbrido, o evento registrou a participação de cerca de 40 pessoas, entre representantes de Sindicatos, palestrantes e comissão organizadora. Doze sindicatos de base enviaram representação. O Sintrajusc foi representado pelas coordenadoras Maria José Olegário e Cristina de Assunção. Pela federação, de forma presencial, participaram as coordenadoras Lucena Pacheco, Luciana Carneiro, Denise Márcia e os coordenadores Fabiano dos Santos e Jaílson Laje. Por videoconferência, os coordenadores Luiz Cláudio Correa e Manoel Gérson acompanharam todo o evento.
Inédito, o encontro oportunizou discussões de grande relevância não apenas para a categoria, mas também para a sociedade como um todo. Na avaliação dos participantes, a Federação deu um passo importante na sua história de luta em defesa de uma sociedade mais justa e igualitária, sendo o evento um “divisor de águas” na bandeira de lutas da Fenajufe. As e os participantes retornarão aos seus estados de origem com a certeza de que a pauta LGBTQIAP+ será ponto garantido nos espaços de discussões permanentes da categoria.
Moção
O encontro aprovou ainda uma moção de defesa às deputadas ameaçadas de cassação. As parlamentares Célia Xakriabá (PSOL/MG), Erika Kokay (PT/DF), Fernanda Melchionna (PSOL/RS), Juliana Cardoso (PT/SP), Sâmia Bomfim (PSOL/SP) e Talíria Petrone (PSOL/RJ), estão sendo acusadas de quebra de decoro parlamentar em representação do partido do ex-presidente derrotado nas últimas eleições e hoje inelegível, Jair Bolsonaro, (PL).
A alegação contra as parlamentares é de quebra de decoro durante aprovação do projeto do marco temporal de terras indígenas (PL 490/07) ainda no mês de maio. Na verdade, a ação do partido evidencia violência política de gênero e tentativa de silenciar as deputadas.
A moção será construída e divulgada pela diretoria executiva.
Entre as propostas apresentadas, destacamos:
• Que os Sindicatos que ainda não possuem Núcleo contra Opressões o criem, no formato que for melhor para a realidade local e que divulgue nas bases o encontro da Federação, estimulando a participação de todos.
• Reivindicar junto aos tribunais que o tema da luta dos direitos humanos, da luta das mulheres, negros e negras e pessoas LGBTQIAP+ seja incluído nos processos de formação e capacitação dos órgãos.
• Propor a criação de núcleos ou conselhos nas unidades do PJU para o acolhimento das pessoas LGBTQIAP+ e o recebimento de denúncias dos casos de LGBTfobia;
• Propor que os Tribunais adotem uma Política de Equidade de Gênero, Raça e Diversidade, por meio de seus normativos internos, dispondo sobre ações e projetos que devem ser implementados com o escopo de combater a discriminação de todos aqueles que são vulneráveis, pelas suas condições pessoais, a exemplo da mulher, do negro e dos LGBTQIAP+.
• Reforçar que, além da imprescindível criação de Núcleos, as entidades sindicais pautem o tema da luta das pessoas LGBTQIAP+ em eventos gerais da categoria, como Congressos, Plenárias, além de eventos específicos e organizativos das pessoas LGBTQIAP+.
24ª Parada do Orgulho LGBTI+ de Brasília
O 1º Encontro LGBTQIAP+ da Federação foi pensado para acontecer na mesma data em que acontece a 24ª Parada da Diversidade da Capital Federal.
A coordenação ressaltou a importância de se fazer a discussão da diversidade dentro da categoria. Foi consenso, a relevância desse encontro na história da Federação. O tema “políticas afirmativas e direitos das pessoas LGBTQIAP+” permeou os debates.
Para o coordenador Fabiano dos Santos, a discussão é importantíssima, mas deve ir para “além da categoria”. Segundo ele, servidoras e servidores que são LGBTQIAP+ de certa forma são privilegiados, por serem concursados, majoritariamente brancos e por isso desconhecem a realidade de milhares de pessoas em igual situação. Nesse sentido, o dirigente afirmou que é preciso “furar a bolha”, ampliar o debate por respeito e igualdade de direitos da população LGBTQIAP+ para toda a sociedade.
Para este primeiro encontro, a Federação trouxe as palestrantes Lucci Laporta, ativista transfeminista, Dalcira Ferrão, psicóloga especializada em atendimento à população LGBT+, Sara Wagner, professora pedagoga e ativista LBGTI+, Dayana Brunetto, coordenadora geral de promoção dos direitos das pessoas LGBTQIA+ e Gab Van, articulador político-social e coordenador da “Marcha do Orgulho Trans” do Rio de Janeiro.
Os palestrantes trouxeram a realidade e desafios dos vários segmentos, invariavelmente marcados pela dor do preconceito e da discriminação por que passam no dia a dia. Em suas falas, reafirmaram a importância de as pessoas LGBT+ ocuparem os espaços do mundo do trabalho, acadêmicos, sociais e da necessidade urgente da efetivação das políticas públicas que os façam existir de fato.
O coordenador Jaílson considerou muito relevante a diversidade dos palestrantes. Segundo o dirigente, o destaque da mesa de abertura foi a fala da pedagoga e ativista LBGTI+, Sara Wagner, quando citou os 54 anos da “Revolta de Stonewall” que deu início à luta do segmento.
Jaílson destacou, ainda, a fala do coordenador da “Marcha Orgulho Trans” do Rio de Janeiro, Gab Van, que enfatizou que as políticas reparatórias das empresas para as pessoas LGBTs esbarram na questão financeira e que só querem explorar os e as trabalhadoras da diversidade. Para o coordenador, “é preciso manter vivo o espírito de Stonewall, e que somente com muita luta direta e mobilização vamos avançar na conquista de nossos direitos”.
Em todas as manifestações expostas, o ponto em comum citado foram as várias formas de violência que matam uma pessoa LGBT+ a cada 34 horas no país. O diagnóstico faz o Brasil ocupar esse ranking vergonhoso há 13 anos.
O primeiro encontro LGBTI+ da Federação mostrou vivências, dores e principalmente a luta incessante das pessoas LGBT+ para exercerem o direito à vida. Terem respeito, dignidade e visibilidade como seres humanos ou simplesmente viver é o apelo de todas e todos.
Sobre o tema, Luci Laporta afirmou que a classe trabalhadora é formada por pessoas negras, mulheres, e é preciso entender que a luta contra a exploração da classe trabalhadora esteja atrelada à luta contra as opressões. “Quando a gente luta pela classe trabalhadora é preciso fazer essa heteronormatividade”.
A psicóloga Dalcira Ferrão, trouxe informações sobre saúde mental e destacou os avanços na psicologia e como é fundamental esse mecanismo no enfrentamento à LGBTQIA+fobia. “É extremamente importante, quando falamos de públicos minoritários e a opressão da sociedade, discutir também os impactos que isso causa na saúde mental das pessoas LGBT+”.
Dayana Brunetto, coordenadora-geral de promoção da Secretaria Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ do governo federal, destacou os desafios e a atuação para construir políticas públicas de inclusão e em defesa das pessoas LGBT+. Brunetto ressaltou que um dos maiores desafios é a falta de dados sobre a comunidade, o que dificulta algumas ações, e ressaltou que o ideal seria elaborar uma política pública dialogada com os movimentos sociais e com participação social ampliada.
Já Sara Wagner destacou a importância e a visibilidade da vida das pessoas LGBT+ e chamou a atenção para os dados alarmantes de assassinatos de pessoas trans.
Homem trans, o articulador político Gabi Van relatou que foi expulso de casa e que não vê os pais há dezessete anos, quando fugiu pela terceira vez de um centro de reabilitação de “cura gay” levado pelos pais. Para ele, as pessoas trans pretas são “alvo certeiro” para a violência policial.
Roda de conversa
A organização do evento realizou uma roda de conversa com o tema “A realidade dos LGBTs+ no Mundo do Trabalho”. A atividade foi conduzida pela jornalista e LGBT+ da Fenajufe Joana Darc Melo e o assessor de assuntos institucionais da Federação e assessor parlamentar do Sintrajusc, Alexandre Marques, também assumidamente homossexual.
A jornalista ressaltou a importância de as entidades sindicais serem exemplo nas pautas LGBT+ começando pelos próprios funcionários, oferecendo oportunidades iguais para todes. “Nós não temos que esperar o dia 28 de junho, que é o dia do Orgulho LGBT+, devemos combater a discriminação e o preconceito todos os dias”.
O assessor chamou a atenção para os desafios da população LGBT+ e ressaltou que, mesmo com os avanços, ainda existe muito preconceito e discriminação contra pessoas LGBTs e pontuou a violência como fator invisibilizador da população.
Os participantes assistiram um vídeo com histórias impactantes sobre a realidade dos LGBTs+ no mundo do trabalho. A partir disso, os participantes contribuíram com suas falas, ideias e reivindicações apontando a mesma direção: a unidade no enfrentamento ao preconceito, a luta contra a LGBTIA+fobia e o fortalecimento da pauta pelas entidades sindicais.
Sem caráter deliberativo, as propostas serão encaminhadas para avaliação posterior da diretoria executiva da Fenajufe.
Joana Darc Melo e Fernanda Miranda, da Fenajufe