O economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina, José Álvaro de Lima Cardoso, elaborou um estudo, com base em estudo do Banco Mundial e do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, do Ministério do Trabalho e Emprego, que mostra a necessidade crescente de escolaridade para que os trabalhadores melhorem suas chances de entrar no mercado de trabalho. Segundo o estudo, “a força de trabalho no Brasil, sob o ponto de vista da escolaridade, se encontra ainda em uma posição muito frágil e atrasada em relação a outros países, mesmo latino-americanos. Em média o trabalhador brasileiro possui apenas cinco anos de escolaridade, atrás de Argentina, Uruguai e Chile, apenas para ficarmos na América do Sul. Esta característica, obviamente, coloca limites aos avanços da qualidade e da produtividade, especialmente se considerarmos o conteúdo atual do trabalho, que requer crescentemente, um trabalhador mais preparado e qualificado”.
Pela pesquisa do Banco Mundial aponta, no Brasil, as pessoas com curso superior têm 20% mais chance de obter um emprego, em relação às pessoas que possuem apenas o curso elementar. Além disso, elas têm 38% menos propensão a ficar desempregadas e, quando ficam, conseguem emprego em um período seis vezes menor. Do ponto de vista da renda também as vantagens da escolaridade no Brasil são óbvias. A remuneração média cresce à medida que cresce a escolaridade. A diferença do salário médio entre os trabalhadores analfabetos, e aqueles que têm curso superior completo, é de 4,5 vezes entre os admitidos no mercado de carteira assinada no Brasil. Entre os desligados do emprego essa diferença é ainda maior (5,3), o que também revela que as empresas estão substituindo, no processo de rotatividade, mão-de-obra mais cara por mais barata.
O economista afirma que são crescentes as dificuldades para inserção no mercado de trabalho, para quem tem pouca ou nenhuma escolaridade. “As exigências de maior escolaridade vêm aumentando ano a ano”, afirma. Como exemplo, José Álvaro afirma que, em 2002, 55,5% do pessoal admitido tinha até a 8ª série completa. Esse, percentual caiu para 52,91% em 2003 e, em 2004, atingiu 50,09%. Nas faixas de menor escolaridade a queda foi ainda maior. Por outro lado, diz o econoomista, aumentaram as chances de quem tem maior escolaridade. Em 2002, 4,53% dos postos foram abertos para quem tem curso superior completo, percentual que se elevou para 5,06% em 2004.
Se a pressão aumenta por um lado, por outro, em função da elevada taxa de desemprego, cresce a exigência das empresas na seleção dos recursos humanos. Muitas empresas não estão mais admitindo candidatos sem o 1º grau completo, e algumas já estão exigindo o 2º grau, ainda que para funções relativamente simples. Os níveis de desemprego possibilitam às empresas fazer exigências além daquelas realmente necessárias ao cargo.
“O aumento da escolaridade dos trabalhadores é algo normal e, por si só, positivo, pois indica, em termos genéricos, a melhoria da qualidade de vida na sociedade. O grande problema é que no caso do mercado de trabalho brasileiro, em regra, o fenômeno tem beneficiado predominantemente as empresas, já que o salário médio vem decrescendo em termos reais”, afirma José Álvaro. Portanto, as empresas vêm empregando um trabalhador mais escolarizado, por um salário menor, situação bastante cômoda, já que elas aumentam produtividade e qualidade sem adição proporcional de custos.
Para finalizar, o economista faz algumas considerações quanto aos avanços da escolaridade no País. “Tanto a qualidade do produto quanto a produtividade do trabalho, potencializadas pela maior escolarização, podem e devem crescer no Brasil, mas estes avanços têm que significar ganhos efetivos para a sociedade como um todo.” Segundo José Álvaro, “estamos agora em um momento de recuperação do emprego de carteira assinada, porém estes empregos têm sido de escassa qualidade, com baixos salários, jornadas extensas e alta rotatividade. A questão não é apenas ter um emprego, mas ter um emprego que garanta sobrevivência digna e compatível com os esforços de escolarização empreendidos pelo trabalhador”.