A presidente do Sindicato dos Servidores Públicos de Joinville (Sinsej), Jane Becker, sofreu uma ameaça de morte na manhã desta quinta-feira, 2, após denunciar um caso de trabalho análogo à escravidão na cidade. Nesta semana, o sindicato vinha denunciando as condições em uma empresa terceirizada contratada pela Prefeitura, onde trabalhadores tinham que comer no chão de um canil. O prefeito de Joinville é Adriano Silva, do Partido Novo.
O caso denunciado ocorreu no Centro de Bem-Estar Animal de Joinville (CBEA), onde os trabalhadores recebem “quentinhas” e são obrigados a almoçar no chão do canil. Eles se espalham procurando latas e locais no chão para sentar e se alimentar. Outros se abrigam embaixo de um telhado improvisado ao lado da caçamba de lixo para poderem almoçar na sombra. Os trabalhadores, cerca de 30, confirmaram que são transportados no baú de caminhões todos os dias, tanto na ida quanto na volta para casa. Outros contaram que chegam ao CBEA de carona em um carro com oito pessoas. Alguns funcionários relataram que o transporte e a alimentação são descontados de seus vencimentos.
A situação foi denunciada pelo Sinsej na segunda-feira, 27 de fevereiro, ao Ministério Público do Trabalho (MPT). Como represália, a presidente do sindicato foi ameaçada. Jane Becker estava dirigindo quando parou em um semáforo e um motociclista se aproximou da janela do carro e perguntou se ela queria morrer. Inicialmente, Jane pensou que o motociclista estaria reclamando de algo que aconteceu no trânsito. Porém, na sequência ele falou que se ela “não parasse de se meter no que não deve”, seria morta. Ela registrou boletim de ocorrência e precisou ser hospitalizada por conta de uma crise de ansiedade.
Jornalista que denunciou caso é demitido
A história ganhou repercussão após uma reportagem do jornalista Leandro Schmitz, publicada no jornal Folha Metropolitana. Mesmo com o furo de reportagem – ou justamente por causa dele –, Leandro foi demitido na quarta-feira, 1º.
O Sinsej divulgou nota de solidariedade ao jornalista e repudiando uma suposta pressão do prefeito de Joinville, Adriano Silva, do Partido Novo, sobre a imprensa: “A demissão claramente é fruto de pressão da prefeitura de Joinville, que como contratante, deveria fiscalizar os trabalhos de sua terceirizada na obra. É importante frisar que a matéria cumpre todos os preceitos básicos do jornalismo. O jornalista deu voz a todos os envolvidos e apresentou vídeos e fotos como provas do que havia apurado. A prefeitura, inclusive, foi uma das ouvidas e tem sua resposta citada no texto. É simbólico que o executivo municipal tenha levado apenas algumas horas para pedir a cabeça do jornalista que denunciou a situação, enquanto se fez de cega por meses em relação a situação dos trabalhadores do CBEA. Este é Adriano Silva e este é o partido Novo. Permissividade com condições péssimas de trabalho e perseguição a jornalistas. As atitudes do prefeito em relação a este caso beiram o coronelismo e fariam brilhar os olhos de escravocratas de tempos passados. Fica inclusive a sugestão para a mudança no nome do partido, de Novo para Velho ou Antigo, já que as atitudes de sua gestão remetem aos piores momentos do século 18”, diz a nota.
Na semana retrasada, outro caso teve repercussão nacional envolvendo três vinícolas de Bento Gonçalves (RS). Leia em: https://www.brasildefato.com.br/2023/02/28/entidade-que-representa-vinicolas-tenta-culpar-assistencialismo-por-trabalho-escravo-no-rs
Do Sintrajufe/RS com informações do Sinsej, da CUT e do jornal O Município