Mais de um milhão e duzentas mil pessoas marcharam ontem (17) em Havana contra o terrorismo, em uma manifestação liderada pelo presidente Fidel Castro e pelo primeiro vice-presidente Raúl Castro, revelou ontem a Prensa Latina, com base nas informações da emissora de televisão local.
Os milhares de manifestantes passaram em frente ao escritório dos interesses dos EUA em Cuba, onde exigiram que fossem presos os criminosos de origem cubana, Luis Posada Carriles e Orlando Bosch.
“Castigo ao terrorista”, “Abaixo o terrorismo” e “Bush, fascista, prenda o terrorista” eram as palavras de ordem gritadas pelos manifestantes, que marcharam pelo Malecón de Havana, junto à costa, protegidos por um céu nublado.
Com os cubanos participaram também da demonstração alguns convidados estrangeiros, como o secretário-geral da Frente Sandinista de Libertação Nacional, Daniel Ortega, e Giustino di Celmo, pai do turista italiano assassinado em 1997 com a explosão de uma bomba em um hotel, Fabio di Celmo.
Bandeiras nacionais e pessoas de todas as idades, vestidas com as cores nacionais, levavam cartazes exigindo justiça pelos crimes cometidos por Posada Carriles. Milhares de pessoas levavam também fotografias das vítimas dos atentados, como o que derrubou o avião da empresa Cubana de Aviación, em 1976, na costa de Barbados.
“Esta não é uma marcha contra o povo dos Estados Unidos, como já dissemos e reiteramos a dizer hoje (ontem). É uma marcha contra o terrorismo, a favor da vida e da paz, de nosso povo e do povo irmão dos EUA, em cujos valores éticos nós confiamos”, declarou Fidel Castro em um breve discurso antes de iniciar a marcha.
“O terrorismo, no mais moderno e dramático conceito, com o apoio de sofisticados meios tecnológicos e de grande potência, foi criado e desenvolvido pelos próprios governantes dos Estados Unidos, para destruir nossa Revolução”, enfatizou Fidel Castro
“Essa ações não pararam em nenhum momento, durante mais de quatro décadas, dentro e fora da ilha”, disse o presidente, após resumir, de uma grande lista, os incidentes violentos cometidos contra Cuba desde janeiro de 1959.
O chefe de Estado sustentou que os criminosos Orlando Bosch e Posada Carriles, atualmente nos Estados Unidos, foram os mais sanguinários expoentes do terrorismo contra o povo cubano e autores de dezenas de ações atrozes, em numerosos países latino-americanos, inclusive os Estados Unidos.
“As mesmas instituições americanas que treinaram os terroristas de origem cubana, treinaram com esmero também os que supostamente organizaram o brutal ataque ao World Trade Center em 11 de setembro de 2001”, enfatizou Fidel Castro
Espanha
As mídias espanholas deram ampla difusão no país da marcha promovida ontem em Cuba. As agências de notícias EFE, Europa Press e Colpisa publicaram dezenas de notícias de seus correspondentes em Cuba e repercutiram a intervenção de Fidel Castro, que assinalava que o ato não era um protesto contra o povo americano. Os diários espanhóis, em suas versões digitais, destacaram o fato do presidente cubano liderar a enorme manifestação.
Veja abaixo a transcrição do discurso do presidente cubano Fidel Castro ontem, ao dar início a grande marcha.
Compatriotas:
Desde 10 de outubro de 1868 até hoje o povo de Cuba tem lutado pela sua independência durante 137 anos, perante o colonialismo espanhol primeiro e a política expansionista e imperialista dos governantes dos Estados Unidos depois.
Dentro desse período, o dia primeiro de janeiro de 1959 conseguimos pela primeira vez a plena soberania política. O governo da nação começou a ser exercido plenamente pelo próprio povo cubano, que varreu a sangrenta tirania imposta desde o exterior. Desde então, este nobre e heróico povo não cessou de lutar um só dia defendendo o seu direito ao desenvolvimento, à justiça, à paz e à liberdade.
Por tão justa e irrenunciável aspiração, o nosso país tem sido objeto da mais prolongada guerra econômica da história e de uma incessante e feroz campanha de terrorismo que dura já mais de 45 anos.
Um dos primeiros e mais cruentos atos dessa índole foi a explosão do navio de vapor La Coubre, no porto de Havana, que custou 101 vidas e centenas de feridos.
A invasão de Bahia dos Porcos, em 17 de abril de 1961, por uma força militar organizada, treinada e equipada pelo governo dos Estados Unidos, foi precedida por um ataque aéreo surpresa e traiçoeiro, com aviões de bombardeio norte-americanos que portavam as insígnias da Força Aérea cubana. A tropa invasora deslocou-se até o nosso território escoltada, custodiada e acompanhada por unidades navais, aéreas e tropas dos Estados Unidos que esperavam uma cabeça-de-praia em poder dos mercenários, para apoiar com a cumplicidade da OEA um governo provisório que não teve nem sequer tempo para decolar de um aeroporto na Flórida.
Pela sua vez, desde os primeiros anos do triunfo, ao longo e largo do território nacional foram disseminados grupos armados, que assassinaram camponeses, operários, professores e alfabetizadores; queimaram moradias e destruíram centros agrícolas e industriais. Atos de sabotagem com fósforo vivo e explosivos empregaram-se contra a população e a economia do país. Os nossos portos, navios mercantes e pesqueiros foram alvo de constantes ataques. Instalações e pessoal diplomático no exterior do país foram vítimas de ataques com explosivos e armas de fogo. Funcionários diplomáticos foram mortos, desaparecidos ou mutilados. Aviões de passageiros explodiram antes da decolagem ou em pleno vôo, como o de Barbados, em 6 de outubro de 1976, lotado de passageiros, cujos restos irrecuperáveis foram para o fundo do mar, a centenas de metros de profundidade.
Enfermidades que afetavam a vida dos seres humanos ou de animais domésticos e plantas destinadas ao sustento do povo foram introduzidas muitas vezes no nosso país. Essas ações foram ideadas pelos governos e os serviços especiais dos Estados Unidos e os seus autores treinados por eles.
O terrorismo no mais moderno e dramático conceito, com o apoio de sofisticados médios técnicos e explosivos de grande potência, foi criado e desenvolvido pelos próprios governantes dos Estados Unidos para destruir a nossa Revolução, e não cessou um instante durante mais de quatro décadas, dentro e fora da Ilha.
Orlando Bosch e Posada Carriles, os mais sanguinários exponentes do terrorismo imperialista contra o nosso povo, realizaram dezenas de atrozes ações em numerosos países do hemisfério, incluído no território dos Estados Unidos. Milhares de cubanos perderam a vida ou ficaram mutilados em conseqüência dessas covardes e abomináveis ações.
As mesmas instituições e serviços norte-americanos que treinaram os terroristas de origem cubana, também treinaram esmeradamente, como é conhecido, os que organizaram o brutal ataque contra as Torres Gêmeas de Nova Iorque em 11 de setembro de 2001, no qual vários milhares de norte-americanos perderam a vida.
Posada Carriles não apenas participou junto de Orlando Bosch – então chefe do CORU, organização criada pela CIA- na destruição do avião da Cubana, senão que depois, durante muitos anos, organizou dezenas de planos de atentados contra a vida das mais altas lideranças da Revolução Cubana e fez explodir numerosas bombas em hotéis de turismo em Cuba, enquanto Orlando Bosch, aparentemente fugitivo das autoridades norte-americanas, foi partícipe, junto dos corpos repressivos de Augusto Pinochet, no seqüestro e assassinato de importantes personalidades chilenas, como Carlos Prats e Orlando Letelier, ou no desaparecimento de lutadores contra o fascismo no Chile, e inclusive, no seqüestro e morte de diplomáticos cubanos. Desde a própria prisão na Venezuela ordenou aos seus sicários a realização de planos terroristas Tão tenebrosas personagens atuaram sempre sob as ordens dos governos e dos serviços especiais dos Estados Unidos, e foram ilegalmente exonerados de todo crime e punição, como é o caso do perdão concedido a Bosch pelo presidente George Bush (pai), ou tolerada a sua presença durante semanas inteiras no território norte-americano, como o faz o atual Presidente dos Estados Unidos com Posada Carriles, o que constitui uma flagrante violação das próprias leis do país por parte de quem têm a máxima responsabilidade de proteger o povo norte-americano de ataques terroristas.
Todos os atos terroristas de Posada Carriles, incluídos as bombas em hotéis de turismo em Havana e os planos de atentados foram financiados pelos governos dos Estados Unidos através da tristemente célebre Fundação Nacional Cubano Americana, desde que foi criada por Reagan e Bush em 1981. Jamais se atuou com tanto engano e hipocrisia.
Esta não é uma marcha contra o povo dos Estados Unidos, como já o dissemos antes e reiteramo-lo hoje; é uma marcha contra o terrorismo, a favor da vida e da paz de nosso povo e do povo irmão dos Estados Unidos, em cujos valores éticos confiamos.
Abaixo o terrorismo!
Abaixo as doutrinas e os métodos nazistas!
Abaixo o genocídio!
Vivam a solidariedade, a confraternidade, a paz entre os povos!
Viva a verdade!
Avante, valentes soldados das nobres idéias, desprezando o temor, desprezando o imenso poder do adversário, desprezando perigos, que a humanidade tem anseios de justiça!
(Traduzido pela Equipe de Serviços de Tradutores e Intérpretes do Conselho de Estado, ESTI)
Fonte: Diário Vermelho, com informações do Granma Internacional e de Prensa Latina