Para o professor doutor do Departamento de História da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Henrique Espada Lima, pensar o mundo do trabalho é remontar ao passado e estudá-lo. “Todo esse processo de precarização das condições de trabalho nos levam a refletir, sem exagero, que estamos nos tornando muito parecidos com o século 19. O espelho do passado nos ajuda muito a entender o que vivemos hoje e o que enfrentaremos amanhã”, provoca.
A fala foi dita dia 3/11, durante o terceiro encontro do ciclo de seminários “Futuro do Trabalho: Perspectivas latino-americanas”, organizado e promovido pela UFSC e Fazendo Escola do SINJUSC com o apoio do Sintrajusc e do Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul.
O evento aconteceu de forma online e pode ser revisto aqui.
Lima relacionou o trabalho análogo ao escravo ao trabalho uberizado. “A uberização é apenas um aspecto da precariedade das condições contemporâneas do trabalho, que são ligadas a vulnerabilidade material e legal das pessoas, frente a um mercado completamente desregulado, levando, então, à expansão de formas de trabalho análogas à escravidão”, aponta.
O tema do encontro foi escravidão contemporânea. Além de Lima, participaram da mesa: Rafael Chambouleyron, doutor, professor no Programa de Pós-Graduação em História Social da Amazônia,na Universidade Federal do Pará (UFPA) e Gabriela Barretto de Sá, doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Brasília (UNB). A medifiação foi de Beatriz Mamigonian, professora do Departamento de História da UFSC.
Confrontar o silêncio
“A nosso escrevivência não pode ser lida como história para ninar os da casa grande, e sim para incomodá-los em seus sonos injustos”, Conceição Evaristo. A partir da provocação da escritora negra, a conferencista e professora de Direito, Gabriela Barretto de Sá, refletiu como a sala de aula do Direito apaga a história da escravidão.
“É preciso confrontar os silêncios da história tradicional do Direito, nos manuais jurídicos, que ainda carece de abordagens interdisciplinares que permitam realizar diálogos com seriedade e rigor de pesquisa com outras áreas do conhecimento, como história e literatura”, confronta.
Sá contextualizou ainda que a história do Direito no Brasil é marcada pela luta por Direitos, que “estão indissociavelmente inseridos nesse campo de embate a cerca do controle social realizado pelo Direito contra populações racializadas”.
“O engessamento do Direito é uma visão reducionista, congelada e, muitas vezes, anacrônica do que se entende por liberdade. Ainda hoje, a liberdade segue sendo um Direito e um conceito em disputa”, finaliza.
PROXIMO ENCONTRO DIA 10/11 – Desigualdades estruturais e mercado de trabalho
O Seminário continua até o final de novembro e próximo, ocorre no dia 10 de novembro, às 18h, 30, pelo canal do FazendoEscola. Com o tema: Desigualdades estruturais e mercado de trabalho, os conferencistas irão a consubstancialidade, a matriz de desigualdades através do gênero, raça, classe e idade, as desigualdades no trabalho por conta própria e empreendedorismo e pensar sobre novas possibilidades de coletivos de gênero e raça nos sindicatos e associações de trabalhadores.
Por Alana Pastorini