Por Imprensa
Entidades como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra desenvolvem comunicação comunitária para furar bloqueio na mídia. Reportagem faz parte de série especial
“Eu passando por Uberaba, de carro, ligo o rádio e ouço que a Marginal Pinheiros, em São Paulo, está congestionada. O que isso tem a ver com a vida que eles levam lá em Uberaba?”, questiona o jornalista Nivaldo Manzano, durante mesa-redonda, em São Paulo, que debateu, em agosto, o rádio como ferramenta do desenvolvimento local. Segundo ele, pelo menos, 70% dos municípios brasileiros não possuem emissora de rádio e ouvem, diariamente, os noticiários com problemas das grandes capitais.
Para o jornalista, a maior importância das rádios locais é a sua capacidade de ser “um veículo para o desenvolvimento local sustentável”. É nesse contexto que entram as rádios comunitárias. Segundo ele, com uma programação específica para uma determinada comunidade, formada por linguagem, temas e necessidades próprias, o rádio pode contribuir para o crescimento social de comunidades mais pobres.
Pelo seu caráter imediato, “o rádio é o único meio para que as políticas públicas sejam corrigidas durante a implantação e não, ao final, fazer um relatório”, diz o diretor da Oboré, Sergio Gomes. A empresa, que trabalha com comunicação sindical e comunitária desde os anos 70, iniciou há seis anos o “Plantão Saúde”, um programa de oito minutos que, a cada semana, é transmitido por 615 emissoras de todo o país.
Na mesma linha do “Plantão Saúde”, a Oboré desenvolve hoje o projeto “Universidade da Terra”. “Estamos estudando os parceiros para juntar força em um programa que seja capaz de traduzir, em linguagem acessível ao agricultor familiar, o conhecimento das escolas de agronomia, veterinária e administração para a popularização da ciência”, explica Sergio.
O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) também já descobriu a importância de desenvolver uma comunicação própria. Hoje, o MST mantém 15 rádios comunitárias no Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. As rádios transmitem música brasileira e, em alguns casos, latino-americana, além de programas como o “Vozes da Terra”, com temas próprios do cotidiano dos agricultores rurais, como mercado agrícola e desemprego, além de debater questões políticas nacionais e internacionais. Em muitos lugares, “é a única fonte de informação da comunidade sobre a reforma agrária”, ressalta a coordenadora de Comunicação do MST, Juvana Cestille.
Os principais problemas são os mesmos em todas as rádios: dificuldades financeiras e para conseguir autorização legal para funcionar. Além da compra e manutenção dos aparelhos necessários ao funcionamento, a legislação (Lei nº 9.612, de 1998) não permite que elas veiculem publicidade e só “poderão admitir patrocínio, sob a forma de apoio cultural, (…) restrito aos estabelecimentos situados na área da comunidade atendida”.
Muitas vezes, segundo Sérgio Gomes, as comunidades mais pobres do país são as que mais precisam de um veículo próprio de comunicação, mas “se a comunidade é muito pobre não há ninguém que possa patrocinar”. Sem a ajuda da legislação e à margem das rádios comerciais, para se sustentarem, as rádios rurais do MST fazem bingos e festas “para a manutenção dos equipamentos, porque o trabalho é voluntário”, diz a coordenadora. Já a concessão, “é difícil, burocrática e exige tempo. O processo é lento, temos rádios que estão há seis anos esperando resposta”, reclama Juvana.
Fonte: Agência Brasil