A intenção é das melhores: orientar os servidores a evitar assaltos e lidar com criminosos em situações perigosas, mas o conteúdo é, no mínimo, contestável. Está sendo elaborada pela Secretaria de Segurança do Superior Tribunal de Justiça (STJ) uma cartilha com conselhos de segurança incomuns. O texto recomenda, por exemplo, que a vítima de um assalto reaja e enfie o dedo nos olhos do malfeitor se sentir que corre o risco de ser seqüestrada mesmo depois de roubada. “Se a pessoa leva você depois de tirar tudo seu, dinheiro, relógio, anéis, etc., aconselho uma reação qualquer: enfiar o dedo nos olhos dele, fugir, correr. Ache o seu modo de preservar a sua vida. Porque o próximo ato poderá ser o estupro, fatalmente seguido de morte, para não haver reconhecimento”, diz a cartilha. Na versão anterior do manual, disponibilizada aos servidores na rede interna de computadores do tribunal, havia conselhos opostos, como “Em hipótese alguma tente reagir”, “Não tente fugir”, “Obedeça às ordens do assaltante” e “Numa situação como essa não há o que se fazer. Não tente bancar o herói”.
Em outro trecho polêmico, a nova versão da cartilha orienta que se ignore o sinal vermelho caso seja noite e algum suspeito se aproxime do carro. “É preferível pagar a multa a perder a vida”, constata o documento. Ainda que seja uma situação especial, trata-se de uma infração ao Código de Trânsito Brasileiro recomendada pela instância final da Justiça Federal. Na versão anterior, a cartilha abordava o assunto de forma mais politicamente correta: “Respeite as leis de trânsito. Não se aventure colocando em risco a vida dos outros”.
A Secretaria de Segurança do STJ também orienta seus funcionários a gritarem um nome masculino em vez do típico “socorro” no caso de abordagem por assaltantes. A intenção seria afugentar o algoz diante da possibilidade de haver um conhecido nas imediações. “Você desnorteia o assaltante ao iludi-lo de que há um conhecido seu por perto para protegê-lo”, ensinou o comandante Álvaro Pacheco, secretário de Segurança Institucional do tribunal e autor da iniciativa.
Pacheco explicou que a cartilha, disponível na rede interna de computadores, não era devidamente divulgada. Por isso, decidiu ampliar as dicas de segurança e alertar os servidores para a existência delas. “Ninguém acredita que pode ser uma vítima em potencial até que o pior aconteça consigo próprio ou com alguém de sua convivência. A mulher, mesmo sabendo dos perigos, continua dando sopa quando entra no carro e se olha no retrovisor para ver se está bonitinha. Demora à beça para sair e não observa se tem alguém suspeito próximo ou se aproximando”, afirmou. Para quem não conseguiu evitar e acabou assaltado ou seqüestrado, a cartilha deixa um último conselho para depois do trauma vivido: “Não chore e não entre em desespero”. (Fonte: O Globo)