Por Marcela Cornelli
Após 13 anos de disputas judiciais, o corpo da militante política Iara Iavelberg foi exumado na segunda-feira em São Paulo, numa tentativa da família de esclarecer as circunstâncias de sua morte, ocorrida há 32 anos.
Última companheira do guerrilheiro Carlos Lamarca, Iara Iavelberg morreu em 1971, aos 27 anos, na Bahia, depois de um cerco policial. A versão oficial, contestada pela família, é de que ela se suicidou com um tiro.
“Para nós, (a exumação) é uma vitória, vemos isso como uma questão política”, disse Samuel Iavelberg, um dos três irmãos de Iara presentes no momento em que o corpo foi desenterrado. “Não podíamos conviver com a versão oficial da ditadura militar”.
Iara Iavelberg foi sepultada na ala reservada para os suicidas do Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, em um caixão lacrado pelas autoridades, sem autorização para passar pelo ritual judaico de lavagem do corpo.
De acordo com Samuel, documentos importantes sobre a morte da irmã desapareceram, e restou como única possibilidade para esclarecimento do caso a análise dos restos mortais dela. “Sabemos por exemplo que ela foi autopsiada na Bahia, mas o documento do médico legista desapareceu”.
Além de poder comprovar que não houve suicídio, a família tem esperança de saber se Iara foi executada no local da ação policial ou se foi submetida a tortura antes de ser morta.
Processo interrompido
Uma liminar judicial em favor do cemitério chegou a interromper por cerca de três horas a exumação. “Eles (a administração do cemitério) alegavam que havia preparativos para um feriado religioso”, afirmou Mariana Carvalho, assessora do deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), advogado da família.
A família diz que, por “questões políticas”, o cemitério tentou protelar e evitar a exumação. A decisão da 1a. Câmara do Tribunal de Justiça determinando a abertura do túmulo foi publicada em novembro de 2002.
Na tarde de hoje, após um acordo entre os advogados e o cemitério, pelo qual a imprensa foi retirada do local, a exumação foi retomada e os restos seriam levados à Universidade de São Paulo para análise dos peritos.
A equipe é chefiada pelo médico-legista Daniel Muñoz e ainda não havia uma estimativa de quando os trabalhos seriam concluídos.
A direção do Cemitério Israelita não respondeu aos telefonemas da Reuters para comentar o assunto.
Cerca de 400 militantes desapareceram durante o regime militar no Brasil (1964-1985).
Fonte: Site Último Segundo