Por Marcela Cornelli
O coordenador geral do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), João Pedro Stédile, criticou hoje o governo Lula, afirmando que parte dele é neoliberal, e o modelo agrícola do país, classificando-o como “burro”. Afirmou ainda que as disputas com a OMC (Organização Mundial do Comércio) são atestados de “ignorância”.
Na avaliação do líder do MST, o país precisa de um modelo que priorize o mercado interno de massa, que inclua a distribuição de renda e inclusão social. Disse ainda que nenhum país se desenvolve exportando matéria-prima.
“Precisamos também adequar os preços da agricultura à nova realidade econômica e não às cotações visando o mercado externo. As empresas de agroindústria foram todas desnacionalizadas. O Estado perdeu o controle dos preços, ingerência tecnológica e praticamente da pesquisa agropecuária.”
Stédile disse que apesar de o brasileiro ter tentado, votando na oposição nas últimas eleições, não conseguiu derrotar o neoliberalismo. Segundo ele, integrantes do próprio governo defendem esse modelo através da adesão à Alca (Área de Livre Comércio das Américas), ao seguir as regras do FMI (Fundo Monetário Internacional) e tentar se submeter as regras da OMC.
De acordo com o líder sem-terra, outras correntes do governo Lula defendem a reciclagem do modelo neoliberal, sem alterar os fundamentos dessa corrente, com medidas ineficazes como pequenas quedas nas taxas de juros e políticas compensatórias do programa de renda.
“Estamos vivendo, até hoje, as conseqüências de 12 anos de neoliberalismo, que deu liberdade total ao capital. Mesmo eleito com a intenção da sociedade em mudar, o novo governo recebeu da área agrícola uma tapera velha. Por isso, o novo ministro da agricultura, Roberto Rodrigues, se dá ao luxo de fazer mais política partidária, do que política agrícola”, disse.
Para Stédile, o presidente Lula, sozinho, não é capaz de promover as mudanças que a sociedade pleiteou na eleição. Ele defende um amplo debate envolvendo todos os setores da população.
“Precisamos de um projeto popular, que restabeleça a soberania nacional e a política interna de consumo. Todos têm de ser ouvidos, desde as pastorais e centrais sindicais, para levar o debate para a população brasileira, que é quem deve decidir que projeto social vai ser adotado. Isso não depende do presidente, governadores ou prefeitos, mas, sim, da população. Não podemos deixar que os salões entapetados decidam a nossa política, pois dessa forma a população será mais uma vez derrotada”, afirmou.
Fonte: Folha On Line