Congressistas debatem gênero, raça e orientação sexual

Por Marcela Cornelli

Leia abaixo notícias do V CONGREJUFE:

A abertura oficial do 5º Congresso Nacional da Fenajufe aconteceu na manhã de quarta-feira (28/2). No entanto, as atividades já iniciaram na terça à tarde com a realização do I Seminário sobre Gênero, Raça e Orientação Sexual, promovido pela Fenajufe. A iniciativa da Federação de realizar um debate sobre o assunto foi aprovada no final de novembro do ano passado, na XI Plenária Nacional da Fenajufe, em Teresina/PI. Na ocasião, foi destacada a necessidade de um trabalho com a categoria voltado para os temas que envolvem essas questões, como políticas afirmativas, discussão de quotas para negros nas universidades públicas, violência contra a mulher, assédio sexual e moral e discriminação contra homossexuais.

O seminário contou com a participação do psicólogo Elton Castro, membro do Grupo Gay de Alagoas; e do professor de História da África e do Escravismo no Brasil da Universidade de Alagoas, Zezito Araújo. A Fenajufe foi representada na mesa pelas diretoras Ana Luiza Figueiredo Gomes e Madalena Nunes, que abordaram questões de Gênero.

O professor Zezito, que também é secretário Especializado em Defesa das Minorias do Governo de Alagoas, considerou importante a iniciativa da Fenajufe em trazer para os trabalhadores do Judiciário e do Ministério Público as questões de Gênero, Raça e Orientação Sexual. Ele reforçou a necessidade de se debater esses temas dentro do movimento sindical que, segundo ele, ainda estão muito restritos aos grupos que representam os segmentos.

Ele defendeu que o conceito de raça não se trata apenas de um conceito de classe, mas essencialmente um conceito ideológico que existe para atender a um certo segmento dominante do atual modelo capitalista. Sobre as quotas para negros nas universidades públicas, o professor defende que essa possa ser uma alternativa imediata para o problema da dificuldade enfrentada pelos estudantes afros descendentes à hora de concorrer a uma vaga nas universidades públicas do país. “Está comprovada que a quota é um a política de ações afirmativas, reparatória e, portanto, temporária. Você não pode tratar os desiguais como os iguais, mas como são considerados. Só assim há a possibilidade de haver a reparação. Talvez o sistema de quota não seja o instrumento mais eficaz, mas é o instrumento que possibilita a inserção dos afros descendentes brasileiros na sociedade, através daquilo que vemos como um instrumento que é a educação”, defendeu Zezito.

Para o psicólogo Elton Castor a discussão sobre orientação sexual ainda é bastante recente dentro do movimento sindical e até mesmo do movimento social. Assim como o professor Zezito, Elton ressaltou que o debate sobre Gênero, Raça e Orientação Sexual tem peso apenas nos grupos organizados desses segmentos.

Ele colocou o termo “diversidade sexual” como o melhor tema a ser trabalhado nos debates com a sociedade, por considerar que “as pessoas são diversas na forma de se realizarem e de relacionarem com o outro, independente de sua orientação sexual”. Para ele, que atua junto aos portadores de HVI, é preciso entender a questão da orientação sexual como um assunto de ordem política e de interesse da saúde do trabalhador.

“Não conseguimos eliminar as formas de discriminação, mas devemos ser capaz de eliminar as possibilidades de cristalizar a discriminação, para que não se torne uma coisa banal e natural, porque não é natural”, enfatizou.

Categoria propõe ações afirmativas
As intervenções dos participantes do seminário foram unânimes na necessidade de abrir uma discussão mais ampla com a categoria sobre as questões relacionados aos segmentos que sofrem todo o tipo de discriminação social. Várias sugestões de ações foram citadas para serem implementadas pela Fenajufe e pelos sindicatos filiados. A proposição mais defendida foi que a Fenajufe oriente os sindicatos de base a pautarem esse tema nos principais fóruns de deliberação da categoria.

O representante da base da Justiça Federal do Rio Grande do Sul, José Carlos Oliveira, citou a decisão favorável da Justiça Federal a uma ação movida pelo Sintrajufe/RS que estende o plano de assistência médica ao companheiro de um servidor do órgão. A partir dessa decisão, ele acredita que o direito será estendido a outros servidores da base do Judiciário do Rio Grande do Sul.

O servidor do Ministério Público Federal, Wilson da Silva Veleci, da delegação do Distrito Federal, defendeu que a Fenajufe crie uma coordenação, com pelo menos três coordenadores executivos, para tratar das questões de Gênero, Raça e Orientação Sexual. Segundo ele, a questão do racismo contra os afros descendentes no país “chegou ao ponto de genocídios”. “É urgente a necessidade de inserir esse debate dentro do movimento sindical e especialmente no Judiciário e no MPU. A esquerda brasileira não aborda esse tema a fundo e simplesmente lava as mãos quanto a esse problema”, criticou. A coordenação proposta pelo servidor do MPF, segundo ele, deverá ter como prioridade desenvolver ações afirmativas com a categoria.

Todas sugestões e propostas colocadas no seminário de ontem serão encaminhadas aos debates do plenário do 5º Congrejufe para serem incluídas no plano de lutas.

Fonte: FENAJUFE