Governo diz que matéria do Washington Post é notícia requentada e “inaceitável”

Por Marcela Cornelli

O governo brasileiro reagiu à reportagem publicada na primeira página de sua edição de domingo (4/4), do jornal americano The Washington Post, que acusa o Brasil de impedir que fiscais da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) inspecionassem uma unidade de beneficiamento de urânio, em Resende.

Para o ministro da Ciência e Tecnologia, Eduardo Campos, é inaceitável qualquer tipo de especulação que ponha em dúvida as intenções pacíficas do projeto nuclear brasileiro.

“Isso é uma insinuação inaceitável. O projeto nuclear brasileiro tem como objetivo o uso exclusivo para fins pacíficos. Além da nossa Constituição determinar isso, somos signatários do tratado de não-proliferação de armas nucleares. O Brasil sempre condenou o terrorismo”, reagiu Eduardo Campos.

A assessoria de imprensa do Ministério das Relações Exteriores afirmou, por sua vez, que a matéria publicada pelo Washinghton Post trata de assunto técnico entre o Brasil e a AIEA. O Itamaraty lembra, ainda, que o assunto não é novo e já foi divulgado pela imprensa internacional há dois meses.

Segundo o jornal Washington Post, a posição brasileira está preocupando o governo dos Estados Unidos, temeroso de que a unidade, que enriquece urânio para usinas nucleares, possa também produzir material para armas atômicas. A reportagem traz declarações de James Goodby, um ex-funcionário do governo americano para assuntos nucleares.

“Se nós não queremos esse tipo de unidade no Irã e na Coréia do Norte, também não devemos querer essas unidades no Brasil. É preciso aplicar as mesmas regras para adversários e amigos. Eu não vejo isso acontecendo no Brasil.”, diz Goodby.

Irã e Coréia do Norte têm regimes fortes (uma ditadura, no caso da Coréia) e são inimigos declarados dos EUA.

O governo brasileiro, diz matéria no site da CNN, que também comenta o caso, alega que a produção em Resende serve somente ao baixo enriquecimento de urânio, destinado apenas às usinas de Angra. O alto enriquecimento do urânio, por servir à produção de bombas, está impedido pelo Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares.

O senador republicano Richard Lugar, que dirige o Comitê de Relações Internacionais do Senado americano, disse “não entender” porque o Brasil se recusaria a permitir as inspeções.

“Isso não é só uma questão bilateral entre Estados Unidos e Brasil, mas principalmente um sentimento mundial de que é preciso saber se as pessoas têm urânio.”, disse o parlamentar, do partido do presidente George W. Bush. – Eu posso lembrar muito bem de conversas há duas décadas atrás nas quais brasileiros falavam na possibilidade de o Brasil trabalhar em um programa nuclear que, no fim das contas, eles renunciaram por ser uma má idéia. Eu acho que eles estavam corretos.

A reportagem do Washington Post informa que fiscais da AIEA foram impedidos de vistoriar parte da unidade em Resende e cita a posição do governo brasileiro, que afirma estar de acordo com as leis internacionais, que permitem o uso de enérgica nuclear para fins pacíficos.

No entanto, diz o Washington Post, as autoridades americanas afirmam que a tecnologia atual permite a conversão de um programa destinado a enriquecer urânio para usinas nucleares em outro, voltado para a fabricação de armas atômicas. Por isso pressionam o Brasil a permitir que os fiscais da AIEA não sofram restrições em seu trabalho.

A matéria não revela como os americanos obtiveram informações sobre a produção em Resende.

Fonte: Portal Vermelho, com informações da Globo.com