Por Marcela Cornelli
A greve da Polícia Federal, que vem provocando filas nos aeroportos desde a semana passada, pode ser apenas o prenúncio de uma nova turbulência no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Por todo o país, funcionários públicos federais, das mais diferentes categorias, dos serviços de saúde pública à fiscalização da Receita, passando por universidades, organismos de assistência aos índios e do Judiciário, estão articulando greves para o mês de abril. Filiados na quase totalidade a entidades vinculadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT), eles querem cobrar do presidente as promessas de campanha eleitoral.
“Nos prometeram que neste governo não haveria nenhuma perda salarial e que as perdas históricas, que vêm se acumulando desde 1995, seriam resolvidas em processos de negociação”, diz José Domingues de Godoy Filho, vice-presidente do Sindicato Nacional dos Docentes de Instituições de Ensino Superior (Andes-SN). “Já demos um voto de credibilidade durante um ano inteiro, mas até agora não tivemos nenhum retorno. Foi só discurso”.
Nesta terça-feira (16/3), os preparativos para a greve serão avaliados numa Plenária Nacional Cenesf que abrange o funcionalismo federal, com cerca de 800 mil associados. Na quarta-feira será lançada oficialmente a Campanha Salarial 2004 dos SPF’s. Na quinta-feira, está prevista uma nova reunião da Mesa Nacional de Negociação Permanente.
De acordo com o coordenador executivo da Fenajufe, Ramiro Lopez, é grande a possibilidade da greve. “O Governo está oferecendo um reajuste geral de 2,67%, que não cobre sequer a inflação do ano passado, superior a 9%. Nós reivindicamos a reposição da inflação, mais uma parcela de ganho real e um plano para a reposição do que perdemos no Governo Fernando Henrique, em torno de 127%”.
Sobre a possibilidade de uma greve do funcionalismo criar problemas para o governo, o representante da Fenajufe, que congrega quase 100 mil funcionários, diz: “As entidades não têm filiação partidária. No interior da CUT, os grupos que discordam das propostas do Governo às vezes perdem, como ocorreu no debate sobre a reforma da Previdência, e às vezes ganham. Sabemos que será difícil o Governo atender a nossas reivindicações com a atual política econômica, mas esse é um problema do Governo. Não somos responsáveis pela elaboração do orçamento”, disse.
Ainda de acordo com Lopez, as assembléias que estão sendo realizadas nos Estados mostram a disposição da categoria para a greve. “Temos participado de todas as mesas de negociações, mas ainda não vimos resultados. A conjuntura está nos impondo a organização da greve”.
Fonte: FENAJUFE com informações do Jornal do Comércio/RJ