Países ricos tentam desarticular G-21 em Cancún, diz ministro

Por Marcela Cornelli

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, disse nesta sexta-feira que os Estados Unidos e a União Européia intensificaram as pressões sobre países mais pobres nas negociações sobre comércio mundial em Cancún a fim de desarticular o grupo G-21.

O minsitro afirmou que ambos países estão tentando “cooptar” as nações mais pobres do grupo, que reúne os países emergentes, para aderirem a seu relatório.

“Corre por aqui nos corredores da Organização Mundial do Comércio (OMC) que os Estados Unidos vêm fazendo pressão muito forte sobre alguns dos países mais frágeis do G-21 para tentar enfraquecer o grupo, cooptando esses países”, afirmou Rodrigues.

O Brasil tem um papel de liderança no G-21, que reúne países como China e Índia, e vem lutando para que os Estados Unidos e a UE façam mais concessões no comércio agrícola, reduzindo os bilhões de dólares em subsídios que destinam anualmente para o setor.

O ministro também afirmou que o G-21 pode ficar maior. Segundo ele, a quinta-feira foi marcada por reuniões com países africanos, que deram sinais de que pretendem integrar a equipe.

Zâmbia, Nigéria, Quênia e a até a Turquia são fortes candidatos a engrossar o coro dos países que combatem os subsídios agrícolas, afirmou o ministro.

CONVERSAS BILATERAIS

Na quinta-feira, o minsitro reuniu-se separadamente com representantes dos EUA e da UE, em encontros que duraram mais de duas horas. Para ele, a longa duração das reuniões é um sinal de que as nações ricas estão dispostas ao diálogo, embora o encontro com os Estados Unidos tenha sido mais tenso.

“Na reunião, houve um pouquinho mais de calor”, disse Rodrigues.

O ministro acrescentou que Robert Zoellick, representante comercial dos EUA, questionou quais seriam as vantagens para os Estados Unidos se fizessem concessões ao Brasil.

De acordo Rodrigues, o comentário de Zoellick gerou uma certa “irritação” na reunião, pois são os países pobres que realmente perdem com o protecionismo dado pelas nações desenvolvidas.

Diante disso, o ministro reiterou que “fica firmemente colocado o tema de que sem agricultura não há avanço em Cancún”.

Roberto Rodrigues está otimista e diz que a liderança assumida pelo Brasil mostra o amadurecimento nas relações internacionais do país com o resto do mundo.

“A firmeza com que o Brasil tem se comportado está dando ao país uma condição de relevo muito interessante”, afirmou.

De acordo com o ministro, países que então em Cancún foram chamados a negociar, de forma mais conclusiva, as intermináveis divergências entre os 146 países integrantes do bloco.

“Nós fomos informados, e até convocados, para uma reunião no chamado salão verde, que sempre acontece nas reuniões da OMC”, disse. O salão verde existia já na época do antigo GATT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio), e servia de espaço para solucionar impasses nas negociações entre países.

No salão, o Brasil tentará chegar a um consenso com demais países sobre o comércio agrícola, afirmou o ministro. Para ele, o jogo deve começar nesta sexta-feira, mas vai “esquentar” mesmo no sábado.

Fonte: Agência Reuters Brasil