Por Caio Teixeira, Coordenador de Comunicação do Sintrajusc, de Ciudad Guaiana (Venezuela), onde participa pela Fenajufe do III Fórum Social Pan Amazônico 2004, que acontece de 4 a 8 de fevereiro
O Fórum Social Pan Amazônico foi aberto oficialmente ontem (5/2) à tarde, em Ciudad Guayana, Venezuela pelo próprio presidente Hugo Chaves na presença de milhares de pessoas. Eram os participantes do Fórum que chegaram de todos os países da região e muita gente do povo. Foi realizada uma grande marcha por mais de 20 quilômetros, a “passo de vencedores”, expressão que significa uma marcha relativamente forçada e decidida que levou ao cansaço os menos acostumados. A marcha saiu do Centro de Puerto Ordaz, cidade vizinha, cruzou o Rio Orenoco e chegou ao anfiteatro onde ocorreu a abertura. Por todo o caminho, a marcha era saudada por todos, nos bares, nas lojas, nas escolas. O povo gritava palavras de ordem chavistas, mostrando-se integradíssimo à luta e aderindo à caminhada. Grande número de estudantes, uniformizados, de escolas primárias e secundárias públicas, saiam das escolas, chamados pelos carros de som e se juntavam à marcha. Apesar do longo percurso, cheio de subidas fortes, ao chegarmos no local final, a marcha tinha triplicado de tamanho. Todos esperavam ansiosamente o presidente. Quando um helicóptero militar começou a sobrevoar o local, o povo percebeu de imediato que era Hugo Chaves e o saudou com palavras de ordem da hora: “Uh! Ah! Chaves no se va”.
Hoje pela manhã começaram as conferências. Na primeira delas: “América Latina – Vitórias populares em cenários adversos”, o representante do PCdoB, Erom Bezerra, do Amazonas, um dos painelistas, foi bastante aplaudido, relatando as lutas do povo brasileiro. Eron chamou a atenção para o fato de que o governo brasileiro não é um governo de esquerda como julgam muitos fora do Brasil, mas de centro esquerda e que dentro do governo há setores que defendem políticas neoliberais. Ele salientou também a necessidade imprescindível da mobilização popular nas ruas como única forma de impulsionar as mudanças exigidas pelo povo em qualquer lugar do mundo. Chamou também a unidade dos trabalhadores da América latina para enfrentar o Império, hoje materializado principalmente na ALCA, no FMI e nas dívidas externas dos países periféricos. Durante sua fala, foi diversas vezes interrompido por aplausos.
O império explícito ao nosso lado
Outro que chamou a atenção de todos foi o representante da Guiana Francesa, uma verdadeira colônia da França, dentro da América Latina, onde sequer o povo local pode falar seu idioma pátrio pois a língua oficial é o francês. Ele disse que, muito mais do que uma base de lançamento de foguetes do governo francês, a existência da guiana como colônia é uma perigosa base de lançamento de políticas imperialistas no nosso continente. Por fim exortou os presentes a promover uma ampla campanha pela independência da Guiana Francesa em toda a América o que, pela aclamação que recebeu, deverá ser uma das resoluções do Fórum.
Os debates seguem até domingo tratando de ALCA, Igualdade e poder popular, Plano Colômbia, Meio Ambiente, Violência política, Direitos Humanos e Povos do mundo contra o Império. No sábado haverá um grande debate sobre meios de comunicação. A Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, é uma das painelistas confirmadas. Também está sendo muito aguardado o representante do MST, movimento bastante conhecido e respeitado fora das nossas fronteiras.