A Organização Não-Governamental (ONG) Repórteres Sem Fronteiras (RSF) divulgou relatório em que denuncia a morte de 53 jornalistas no exercício de suas funções em 2004. É o maior número dos últimos 10 anos. O Iraque, invadido pelos Estados Unidos, é o que apresenta o maior número. No Brasil, país onde a liberdade de imprensa é alardeada pelos grandes veículos de comunicação, houve duas mortes. As mortes em todo o mundo acontecem muitas vezes pelo fato de os jornalistas, ao expressarem suas opiniões, contrariarem os interesses de poderosos grupos econômicos ou criminosos, quando ambos não se confundem. O relatório foi divulgado no dia 5 de janeiro. Além do aumento dos assassinatos, cresceu também no ano passado o número de colaboradores da imprensa mortos, de jornalistas feitos prisioneiros e de veículos de mídia fechados ou censurados.
Segundo o relatório, 907 jornalistas foram encarcerados em todo mundo, respondendo a crime de opinião. Na maioria dos casos, os procedimentos legais de detenção não foram respeitados. O documento mostra também que 1.146 jornalistas foram ameaçados de morte ou agredidos fisicamente no ano passado.
Ainda segundo o relatório, 622 empresas de comunicação foram fechadas ou censuradas em todo o mundo. A maioria das intervenções aconteceu em países que vivem sob regime ditatorial e, na maioria dos casos, ocorreram porque as empresas faziam oposição, denúncias ou contrariavam interesses políticos dos governantes. No começo de 2005, 187 jornalistas se encontravam encarcerados. Houve aumento no encarceramento dos chamados cyber-dissidentes (70), jornalistas que mantinham páginas na internet com conteúdo político de denúncia ou oposição aos governantes.
Em relação a 2003 (40 assassinatos), houve um acréscimo de 13 casos. Também aumentaram os casos de colaboradores da imprensa mortos (apenas dois em 2003), de prisão de jornalistas (766 em 2003) e de empresas de comunicação fechadas ou censuradas (501 em 2003). O único item onde houve uma melhora em relação ao ano anterior foi o relativo aos jornalistas ameaçados de morte ou agredidos fisicamente (1.460 em 2003).
Iraque lidera o ranking
Pelo segundo ano consecutivo, o Iraque é o lugar mais perigoso do mundo para os jornalistas. Em 2004, 19 jornalistas e 12 colaboradores morreram no país invadido pelas forças armadas dos Estados Unidos. A maioria dessas mortes ocorreu em função de ações promovidas pelas forças iraquianas, mas também houve casos de jornalistas assassinados por militares norte-americanos. Os casos mais notórios de ataques dos EUA causaram a morte dos jornalistas Ali Al-Kathib e Ali Abdel Aziz, da rede de televisão árabe Al-Arabiya, em 18 de março, e de dois empregados do canal iraquiano Al-Iraqiya, Assad Kadhim e Hussein Saleh, em 19 de abril.
A grande novidade apontada pelo relatório do RSF é a consolidação de “uma nova máfia do seqüestro no Iraque”, que em 2004 atingiu estrangeiros das mais diversas profissões. Entre os jornalistas, incluindo iraquianos, foram 12 casos de seqüestro. O único seqüestrado que terminou assassinado foi o italiano Enzo Baldani, jornalista independente que estava no país a serviço de uma revista semanal italiana, a Diario. Baldani foi seqüestrado pelo Exército Islâmico do Iraque (uma das diversas forças de guerrilha), quando se preparava para entrar na cidade sagrada de Najaf. Foi executado 48 horas depois. Os seqüestradores exigiram, através de uma fita divulgada pela rede de TV Al-Jazira, do Catar, que a Itália retirasse seus soldados do Iraque. O primeiro-ministro italiano, Silvio Berlusconi rejeitou o pedido, o que acabou causou a morte do jornalista, decapitado em frente às câmeras.
Os jornalistas franceses Christian Chesnot e Georges Malbrunot, que trabalhavam respectivamente para o jornal Le Figaro e para a Radio France Internationale (RFI), foram seqüestrados em Najaf no mês de agosto e passaram quatro meses como reféns do mesmo Exército Islâmico do Iraque. O fato de a França ter sido contrária à invasão promovida por George W. Bush e não manter soldados no país deixou os seqüestradores sem ter o que reivindicar, o que facilitou a liberação ocorrida em 21 de dezembro. Há quem diga que o presidente francês Jacques Chirac teria oferecido uma soma em dinheiro em troca da libertação dos repórteres.
Duas mortes no Brasil
Segundo o relatório do RSF, dois jornalistas foram mortos no exercício de sua função no Brasil em 2004. Os repórteres José Carlos Araújo, de Timbaúba, em Pernambuco, e Samuel Roman, de Coronel Sapucaia, no Mato Grosso do Sul, foram assassinados a tiros após denunciarem o envolvimento de políticos locais com o crime organizado. A investigação de ambos os crimes ainda não levou à prisão dos autores. O documento afirma que no Brasil, assim como no México e no Peru, “os assassinatos de jornalistas adquiriram novamente uma dimensão preocupante em 2004”.
No restante da América Latina, o relatório cita os riscos para os jornalistas no Haiti, depois da queda do presidente Jean-Bertrand Aristide, e na Colômbia, em função das violências praticadas pela atuação dos grupos guerrilheiros e paramilitares. O documento cita também Cuba como “o maior cárcere para jornalistas do mundo depois da China”. O país de Fidel Castro, segundo o RSF, mantinha 22 jornalistas encarcerados por motivos políticos na chegada de 2005.
Fonte: Carta Maior