Por Ana Claudia Araujo
As mesas do segundo dia das palestras do 13° Curso Anual do NPC do dia dedicaram-se a refletir acerca das pautas da comunicação sindical. A palestra do economista Marcio Pochmann foi uma das mais concorridas. Professor da UNICAMP, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e um dos principais especialistas do Trabalho, Pochmann palestrou para uma platéia silenciosa de centenas de dirigentes sindicais e jornalistas na tarde desta sexta-feira (23), lançando o desafio para a construção de novos patamares para a economia brasileira.
Na opinião do economista, o Brasil vive um período critico nas ultimas duas décadas. “Estamos presos à pequenez que nos limita entre aceitar a decadência e amenizar o intransponível”, refletiu. Segundo ele, o Brasil é um país periférico do capitalismo e jamais será central, pois não alcança fatores que ele enumerou como preponderantes para que um pais possa dar as cartas nesse sistema: não temos moeda de credibilidade externa, dispomos de capacidade de produção tecnológica residual se comparado a outros paises e nossas forças armadas não representam risco.
Ainda assim, afirmou Pochmann, copiamos mimeticamente o padrão de desenvolvimento de paises centrais do capitalismo e a parcela da população que busca manter o padrão de vida dos países ricos o faz a custa de uma população inteira. “A classe média tem um exercito de serviçais mediante salários baixíssimos e consome recursos de maneira exagerada”, afirmou.
O padrão de consumo também tem impacto no orçamento publico. “Enquanto aumenta o consumo de automóveis, aumenta também a pressão por investimentos nessa infra-estrutura e para isso é preciso sacrificar as verbas do transporte coletivo e da área social”, exemplificou.
Por sua vez, a mídia reproduz esse pensamento em seus produtos ao se pautar pelo que interessa a esse padrão de consumo. “A quem interessa as noticias sobre a crise aeroviária? Há a mesma cobertura dos problemas das rodoviárias, por onde passa a maior parte da população?”, exemplificou.
Segundo ele, a concentração de renda levará a um quadro catastrófico. “Em breve, serão apenas 500 grupos econômicos que comandarão o sistema capitalista em todo o mundo”, previu. E a disputa por um desses lugares tem reflexos na divisão internacional de trabalho, fazendo com que trabalhemos mais para que a quantidade do ganho material fique nas mãos de muito poucos.
Pochmann encerrou sua intervenção com um desafio. “É preciso pensar uma outra agenda civilizatória e isso passa por reconstruir o sistema educacional. Precisamos de uma escola que responda a crise de sociabilidade do século XXI. Se não houver consciência dessa janela histórica, não conseguiremos transformar a realidade e esse é o desafio que nós, que tivemos acesso à educação, temos que enfrentar”, disse.